Enigma da herança: a importância da pontuação

A pontuação pode mudar radicalmente o sentido de uma frase. É isso que iremos observar na resolução do enigma da herança, de acordo com o interesse de cada pessoa na disputa. Acompanhe:

Imagem: Freepik.

Um homem rico estava muito mal, agonizando. Dono de uma grande fortuna, não teve tempo de fazer o seu testamento. Lembrou, nos momentos finais, que precisava fazer isso. Pediu, então, papel e caneta.

Só que, com a ansiedade em que estava para deixar tudo resolvido, acabou complicando ainda mais a situação, pois deixou um testamento sem nenhuma pontuação!

O homem escreveu o seguinte:

“DEIXO MEUS BENS A MINHA IRMÃ NÃO A MEU SOBRINHO JAMAIS SERÁ PAGA A CONTA DO PADEIRO NADA DOU AOS POBRES”

Para quem ele deixou a fortuna? Apenas com a pontuação, é possível mudar o beneficiário da herança. Acompanhe:

1) Em benefício do sobrinho
- Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

2) Em benefício da irmã
- Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

3) Em benefício do padeiro
- Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

4) Em benefício dos pobres
- Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres.

E agora? A herança pode ser de qualquer um deles, só mesmo o autor do testamento para esclarecer essa dúvida.

Casos em que a pontuação pode salvar vidas:

1) Matar ou não matar?
Conta-se que, num reino distante, vivia um rei bondoso e generoso para o povo. Todos o amavam.

Certo dia, uma pessoa não identificada colocou uma placa na porta do castelo, na sombra da noite, com o seguinte dizer:

“Matar o rei não é crime.”

Quando amanheceu, o rei foi alertado pelos guardas para não sair do palácio, pois alguém estava tramando contra a vida dele.

Assustado, ele buscou o sábio do reino e pediu o seu conselho. O mesmo ponderou chegou a uma conclusão. Rapidamente, pegou um pincel e um balde de tinta e modificou um pequeno detalhe na placa:

“Matar o rei não, é crime.”

Assim, todos do reino entenderam que a placa era uma homenagem ao seu bondoso rei e que sua vida não corria mais perigo.

2) Comer ou não comer?
Observe as duas frases a seguir:

Vou ali comer, gente.
Vou ali comer gente.

O efeito de humor nessa comparação se dá pelo emprego errôneo da vírgula. Na primeira frase, ela isola o vocativo. Isso quer dizer que alguém está avisando aos colegas que está indo comer.

Na segunda frase, a falta da vírgula causa o efeito de que a pessoa está indo se alimentar de outras pessoas.

Como surgiram os sinais de pontuação?
O mais antigo sinal de pontuação de que se tem notícia é o ponto. Ele era usado no Egito Antigo para ensinar as crianças a escrever.

Antes e durante a Idade Média, os monges copistas faziam cópias manuais dos escritos existentes. Essa tarefa era realizada em mosteiros, nos quais eles passavam a maior parte do tempo no scriptorium, local destinado para essa tarefa.

Os monges foram os responsáveis por guardar o conhecimento e transmiti-lo às gerações posteriores. Naquela época, alguns livros contavam com a inicial maiúscula diferenciada, como aquela que aparece nos livros de contos infantis.

O restante dos manuscritos era escrito com as palavras “ligadas”, não havendo espaço entre elas. Os espaços entre as palavras surgiram apenas no século VII, na Europa.

Nessa época, a escrita era um privilégio de poucos, sendo praticada apenas pelos nobres e pelo clero. O restante da população desempenhava atividades braçais para sustentar as outras duas classes com os impostos que pagava.

Não era, portanto, necessário nem conveniente que a escrita fosse ensinada a eles, pois muito além de meramente ensinar a registrar, ela é capaz de abrir os olhos.

Segundo Paulo Freire, em Cartas à Cristina, 1994:
“A pessoa conscientizada tem uma compreensão diferente da história e do seu papel nela. Recusa a acomodar-se, mobiliza-se, organiza-se para mudar o mundo.”

Com as Grandes Navegações e o Mercantilismo, as pessoas precisavam do conhecimento da escrita para negociar com mercadores de todas as partes do mundo.

A partir daí, a escrita expandiu-se às demais camadas da sociedade e os sinais de pontuação foram sendo introduzidos, a fim de melhorar o entendimento dos textos.

Quando surgiu cada sinal de pontuação
Ponto final (.): 3000 a. C.

Interrogação (?) e exclamação (!): século XIV.

Vírgula (,) e ponto e vírgula (;): século XV.

Dois pontos (:): século XVI.

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