A
youtuber Kéfera Buckmann lançou seu filme É Fada. Nele, é possível ouvirmos uma
música interpretada pela mesma, que também é atriz. Quem já ouviu essa música
percebeu que existe um trocadilho sonoro nela e é isso que iremos explanar.
Acompanhe:
Imagem: divulgação. |
Analisemos
o refrão da música:
“Essa
fadona, essa fada
Essa
fadona, essa fada
Essa
fadona, essa fadinha.”
Nas
duas primeiras estrofes, as duas primeiras palavras “Essa” e “fadona” assim
como “essa” e “fada” proporcionam um trocadilho sonoro que provoca ambiguidade
de sentido. Podemos interpretar o som dessa expressão como:
“Essa
fadona, essa fada” ou “É safadona, é safada”.
Já
na terceira estrofe, a ambiguidade fica por conta dos termos “Essa fadona”
(novamente) e “essa fadinha”. Sonoramente, poderíamos interpretar a última
estrofe dessa forma:
“É
safadona, é safadinha”.
Essa
possibilidade sonora que gera um duplo sentido de termos, muitas vezes até
constrangedor de certa forma, chama-se cacofonia.
A
palavra cacofonia tem origem em duas outras palavras gregas, que são: kako
(ruim) + phóne (som).
O
som ruim deriva, geralmente, da junção da última sílaba de uma palavra com a
primeira sílaba da palavra seguinte.
A cacofonia e o sentido em geral do
filme
Mesmo
gerando um som que proporciona duplo sentido, a música se refere ao personagem
principal do filme, a fada Geraldine, que é um pouco diferente do estereótipo
de fada delicada.
Na
parte “essa fadona” diz que a personagem é mais que uma fada, como um
superlativo, afirmando a capacidade dela.
Já
parte “essa fadinha” a cacofonia deixa subentendido “é safadinha”, não no
sentido maldoso, mas sim na parte da malícia que a personagem possui para
tentar resolver as situações do seu jeito.
Pode-se
dizer que a música quis mostrar dois lados da personagem contidos em uma mesma
letra, proporcionados pelo efeito sonoro da cacofonia.
Cacofonia nem sempre é ruim
Nas
escolas, principalmente nas séries iniciais em que as crianças estão desenvolvendo
a fala, os professores usam trava línguas com efeito de cacofonia (quem nunca se
enrolou para pronunciar um trava línguas?) para trabalhar a oralidade dos
alunos.
Entre
os mais usados, estão:
"Num ninho de mafagafos tem seis mafagafinhos.
Quem os desmafagafizar bom desmafagafizador será."
“O
sabiá não sabia que o sábio sabia que o sabiá não sabia assobiar.”
“O
rato roeu a roupa do Rei de Roma, a rainha com raiva resolveu remendar.”
“Três
tigres tristes para três pratos de trigo. Três pratos de trigo
para três tigres tristes.”
Cacofonia e redação
Na
redação para ENEM e outros vestibulares, não é interessante que se use palavras
com sons parecidos nem que formem cacofonia quando forem lidas.
Como
disse uma professora minha: “O seu texto fala.” Você tem que reler a sua
redação como se fosse um texto de outra pessoa e se perguntar: “A leitura é
fluente? É fácil de entender?”
Obviamente,
o momento de se fazer uma prova de vestibular é corrido e demanda muito esforço
e essa seria mais uma obrigação para sobrecarregar o vestibulando. Mas não é
tão difícil assim.
Uma
dica importante é: após concluir sua redação, faça outras questões da prova
para “esquecer” o seu texto. Depois, releia-o para revisá-lo. Algumas pessoas
conseguem ler mentalmente, outras precisam falar e, como não se pode falar
durante a prova, use somente os movimentos labiais.
Assim,
será mais fácil encontrar os erros da sua produção textual que passaram
despercebidos na primeira vez que você leu.
Importante:
revise o seu texto antes de passar a limpo na folha oficial.
Outros exemplos de cacofonia
Amo
ela (a moela, parte da galinha).
Vi
ela (viela, rua estreita).
Vou-me
já (vou “mijar”, termo usado popularmente como sinônimo de urinar).
O
goleiro defendeu o gol com uma mão (mamão, fruta).
Ela
tinha (latinha, lata pequena).
Devido
ao aumento (au au, som que o cachorro faz, classificado como onomatopeia).
A
boca dela (cadela, fêmea do cachorro).
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