Uso de estrangeirismos e neologismos na Língua Portuguesa

Neologismos e estrangeirismos são, não raras vezes, objetos de debates: os mais puristas da língua condenam seu uso, pois consideram que podem prejudicar a identidade linguística do país. Acompanhe:

Imagem: Freepik.

Outros consideram que não há como impedir o uso de neologismos e de estrangeirismos, pois, como afirma o gramático Evanildo Bechara, “a língua é um fenômeno histórico e social [...] e acompanha a história do homem que a fala e, por isso, está sujeita a todas as influências.” (O Estado de S. Paulo, 26 mar. 2000, p. A20).

1. Neologismos
Na vida em sociedade, os falantes se veem envolvidos em diversas circunstâncias de comunicação. Essa diversidade favorece a criação de novas palavras para designar inovações científicas, culturais, novas vivências do mundo moderno, para atender às necessidades criadas pelas novas tecnologias de informação e pela informática. Essas novas palavras são chamadas neologismos.

São exemplos de neologismo: terceirizar, hemodiálise, ecoturismo, etc.

Muitas palavras são formadas pela adaptação de estrangeirismos, como deletar, internauta, informatizar, surfar, moletom, roqueiro, etc.

Inúmeros neologismos são criados pelos processos de formação de palavras, como a sufixação, a prefixação e a composição:

- sufixação: panelaço, vestibulando, gatíssimo, vampiresco, sambódromo, etc.
- prefixação: descupinização, microempresa, sem terra, etc.
- composição: seguro desemprego, vale brinde, vale refeição, etc.  
      
2. Uma campanha pelo fim do “naum”
Outra forma de neologismo ligada aos termos usados na internet ficou conhecida como internetês. Usado por muitos e abominado por outros, o internetês motivou muitas polêmicas, inclusive uma campanha contra ele. Veja:

Comunidade na web lança movimento “Eu sei escrever”, para incentivar o uso correto da Língua Portuguesa entre internautas.
Por Claudia Ferraz

Quem passa horas na internet já se acostumou as palavras que só existem na linguagem dos computadores, como deletar e inicializar. Mas os internautas, principalmente os mais jovens, foram além, “aperfeiçoando” a língua com abreviaturas, letras trocadas e neologismos. Esse internetês se tornou tão complicado de entender que os preocupados com o “analfabetismo virtual” criaram a campanha “Eu sei escrever” para incentivar o uso do português correto.

A comunidade tecnológica Fórum PSC inventou um filtro de palavras com erros propositais. O site substitui automaticamente essas palavras pelas formas corretas e destaca o texto corrigido com uma cor ou em itálico. Assim, “aki” vira “aqui” e “naum” se torna “não” para que os autores percebam que estão escrevendo errado.

Couto [o criador do site] explica que a ideia começou porque a diferença de linguagem entre as gerações impedia a troca de informações. “Além de um conflito de interesses, há um conflito de linguagem. Os redatores e moderadores do Fórum não entendiam as mensagens. Então foram instruídos a orientar seus autores para que escrevam de forma mais clara.” [...]
FERRAZ, Claudia. Uma campanha pelo fim do “naum”.
O Estado de S. Paulo. 9 jun. 2005. Vida&, p. A 22.

3. Estrangeirismos
Já os estrangeirismos são expressões, frases e palavras vindas de outras línguas.

O que fazer, então, com termos estrangeiros: usá-los ou evitá-los? Leia o trecho da crônica Língua Estrangeira, do escritor Ivan Ângelo:

Nosso dia a dia é bilíngue, mas em flashes. Controles remotos sinalizam up, down, search, stop, power. Vitrines proclamam off, sale. Esportes da moda são surf, trail, sky diving, bungee jumping. O computador populariza chat, blog, mouse, download. Não dá para contornar rock, reggae, rap, hip hop, funk. É isso aí, brother. [...]

ÂNGELO, Ivan. Língua Estrangeira. Veja São Paulo, 18 maio 2005, p. 138.

Com as facilidades de comunicação entre povos e a globalização, intensifica-se a “importação” e incorporação na língua de palavras, expressões e construções tomadas de outras línguas. Esses termos são denominados estrangeirismos.

Nos últimos anos, tem predominado no português do Brasil a ocorrência de termos do inglês, especialmente pela influência dos Estados Unidos na economia, na moda, na música, na informática, entre outros meios. Isso tem provocado muita polêmica.

No segundo semestre de 1999, o então deputado Aldo Rabelo apresentou à Câmara Federal um projeto de lei que “dispõe sobre a promoção, a proteção, a defesa e o uso da Língua Portuguesa”. Esse projeto proíbe o uso abusivo de palavras estrangeiras em produtos, veículos de comunicação e na publicidade e suscitou diferentes reações.

O jornal O Estado de São Paulo reproduziu, na época, a opinião de algumas pessoas sobre o assunto:

“Vamos poder contar com uma poderosa arma para impedir a colonização da Língua Portuguesa.” (Lygia Fagundes Telles, escritora)  

“Restringir a interação com outras culturas é também uma forma de preconceito e o preconceito nunca é bem vindo.” (Abel Reis, vice-presidente de uma agência de publicidade)

“‘Estamos assistindo a uma verdadeira descaracterização da Língua Portuguesa. Isso traz uma confusão para a criança em fase de alfabetização. ’ O autor afirma que a língua é um elemento de identidade nacional e que é preciso protegê-la.” (Reportagem com Aldo Rabelo, autor do projeto de lei)

“O que mais faz falta em toda discussão a respeito da ‘invasão da língua inglesa’ é um produto raro também em outros setores do país: bom senso. [...] Se a palavra é necessária e não tem equivalente em português, seja bem vinda! Eu não trocaria marketing, por exemplo, por mercadologia. Mas mercadológico pegou. [...] Não se pode aceitar argumentos como o de que o uso de sale dá mais charme à liquidação. Ou que 40% off representa maior apelo para o cliente de uma loja. Aí reside o deslumbramento.” (Eduardo Martins, especialista em língua)
O Estado de S. Paulo, 26 mar. 2000, p. 20.

4. Repúdio ao estrangeirismo na Literatura Brasileira
Um exemplo cômico que demonstra a exaltação exagerada à pátria e o repúdio a toda forma de estrangeirismo é o personagem Policarpo Quaresma, da obra Triste Fim de Policarpo Quaresma, romance Pré-modernista do autor brasileiro Lima Barreto.

Na obra, Policarpo é um patriota inveterado e tenta provar a superioridade do Brasil em relação a outros países. Ele tentou provar que nosso solo é melhor fazendo uma plantação, mas não deu muito certo. Propôs, em outra oportunidade, a declaração do tupi como nossa língua oficial, pois o português lusitano corrompeu a pureza linguística de nosso território.


Em outra ocasião, o personagem recusou-se a comer frango com pois (ervilha – em francês), uma vez que aquilo desvalorizava os pratos nacionais, entre outras situações presentes na obra. 

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