Quem
vê um alpinista escalando uma montanha não imagina os efeitos que a altitude
causa no corpo dele, podendo até mesmo levar à morte. É sobre esses efeitos que
iremos falar agora. Acompanhe:
Imagem: Freepik. |
Faltam
apenas 300 metros para chegar à barraca. Caminhando com dificuldade sobre a
neve, o homem dá dois, três passos e para de respirar. Inspira, mas tem
impressão de que o ar não chega aos pulmões. Mais três passos, nova parada.
O
frio de – 15 °C penetra até os ossos, enregela mãos e pés, resfria a garganta
até doer, corta os lábios até sangrarem. Depois de longos minutos caminhando,
ele enfim alcança a segurança de sua barraca, onde cai prostrado, esgotado pelo
cansaço. O corpo humano não foi feito para sobreviver onde o ar é rarefeito e o
frio, cruel.
Quando
no corpo de uma pessoa existe apenas 30% do oxigênio que deveria, considera-se
que ela está à beira da morte – ou seja, tanto pode estar na UTI de um hospital
ou no topo do Monte Evereste, a 8.848 metros de altitude. Se alguém saísse
diretamente do nível do mar para lá, desmaiaria em alguns segundos e morreria
em poucos minutos.
No
entanto, se demorar algumas semanas para fazer o mesmo percurso, o corpo passa
por um processo de aclimatação: uma série de mudanças que lhe permitem se
adaptar na busca do equilíbrio químico entre a hemoglobina disponível no sangue
(responsável pelo transporte do oxigênio para nossas células) e o próprio
oxigênio para sobreviver. Mas não por muito tempo.
Os
efeitos da redução do gás vital no organismo humano são devastadores. Um corpo
humano começa a sofrer acima de 2.800 metros. É a partir daí que surgem os
primeiros sinais de aclimatação, com a mais óbvia resposta do organismo:
aumentar a ventilação pulmonar, ou seja, a pessoa passa a respirar mais rápido
e mais profundamente. Ao mesmo tempo, para melhor distribuí-lo a todas as
partes do corpo, a frequência cardíaca também aumenta.
Caso
o indivíduo permaneça em altitude muito elevada por mais de dois ou três dias,
entram em ação mecanismos mais duradouros. Um dos mais importantes é a produção
acelerada de hemoglobina, a substância dentro dos glóbulos vermelhos responsável
pelo transporte de oxigênio dos pulmões até as células.
É
como se uma nova tropa de carregadores de gás chegasse para ajudar a atender a
demanda. Essas mudanças, porém, não são imediatas. Levam até oito dias para
apresentar respostas eficientes.
Quem
não respeita os limites e sobe rápido demais, sem dar tempo ao corpo para se
aclimatar, pode ser vítima de uma série de distúrbios, chamados de mal agudo da
montanha. O mal agudo da montanha provoca dor de cabeça, perda de apetite,
náusea e prostração, mas desaparece em dois ou três dias com boa alimentação,
muito líquido e algum repouso.
A
história começa a ficar mais complicada quando os sintomas perduram por mais
tempo, sinal de que há risco de edema pulmonar (acúmulo de líquido nos pulmões)
e edema cerebral (acúmulo de líquido no cérebro). Tudo por culpa da falta de
oxigênio, ou hipóxia, o gatilho da cascata de mudanças fisiológicas no corpo.
É
que o aumento de ventilação, ao mesmo tempo em que leva mais oxigênio para
dentro dos pulmões, elimina muito gás carbônico, deixando o sangue mais
alcalino. Essa é a senha para uma série de alterações no organismo que vão
levar ao acúmulo de líquido nos alvéolos pulmonares.
Na
maioria das pessoas, esse líquido é absorvido pelo corpo. Quando isso não
acontece, o candidato a doente começa a tossir, sente falta de ar e torpor. O
líquido acumula-se cada vez mais, encharcando os alvéolos, a falta de oxigênio
fica cada vez mais grave e acontece enfim o edema pulmonar. Se o doente não for
levado a altitudes mais baixas, pode morrer em cinco dias.
Mecanismo
semelhante acontece no cérebro. Nesse caso, a série de alterações orgânicas
resulta em maior permeabilidade dos vasos sanguíneos, provocando vazamento de
fluidos para o tecido cerebral e o consequente edema.
O
perigo é que um alpinista nessas condições nem sempre percebe que há algo
errado. É que a falta de oxigênio no cérebro afeta o julgamento – a capacidade
de raciocinar e de perceber perigos. Isso acontece porque o cérebro usa sozinho
entre 15% a 20% do oxigênio consumido pelo corpo. Na escassez, as funções mais
afetadas são as chamadas superiores, que incluem justamente a coordenação
motora e o raciocínio.
Texto:
Fátima Cardoso.
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