Já
percebeu algumas formações pontudas saindo do teto das cavernas? Elas se chamam
estalactites e as que estão no chão são as estalagmites. Essas obras de arte da
natureza são esculpidas pela ação da água ao longo de milhares anos e encantam
quem as vê. Acompanhe:
Fonte: Imagens públicas do Google. |
Não
há quem chegue à entrada de uma caverna sem sentir o mesmo que o pintor e
engenheiro Leonardo da Vinci, há quase cinco séculos: “Somos formados por um
misto de temor e desejo. Temor das trevas e do desconhecido, e desejo de
encontrar ali a chave de mistérios nem sequer suspeitados.”
Dentro
da caverna, entretanto, esse sentimento se aprofunda com a visão dos
espeleotemas, ou seja, as esculturas que a natureza cria com extraordinários
instrumentos: a água, os minerais e o tempo.
Em
permanente evolução, enquanto esses elementos estiverem presentes, alguns
espeleotemas brotam da rocha na forma de grossas colunas de até 100 metros de
altura; outras, porém, tornam-se milimétricas “gotas” de pedra, cristalizadas,
por incrível que pareça, dentro de poças d’água.
Séculos
de observação levaram técnicos e cientistas a classificar mais de 100 tipos de
ornamento, espalhados pelas cavernas no mundo. Eles explicam que essas
formações resultam de uma combinação de chuva com o gás carbônico do ar, além
da dissolução de ácidos produzidos pela decomposição de vegetais.
O
resultado dessas reações é que o ácido carbônico, ao chegar ao solo, penetra na
crosta terrestre pelas fissuras e alcança o interior das cavernas. Esse
processo pode ser equacionado da seguinte forma:
CaCO3(s)
+ CO2(g) + H2O(l) à Ca2+(aq)
+ 2HCO- 3(aq) , sendo que o bicarbonato de cálcio é
solúvel em água.
Assim,
os íons arrastados pela água reagirão, acarretando precipitação de carbonato de
cálcio, que pode também ser representado pela equação:
Ca2+ (aq) + 2HCO-
3(aq) à CaCO3(s) + CO2(g) + H2O(l) , em que o carbonato de cálcio é insolúvel em água.
Comparando
as equações, é possível perceber que uma é a inversa da outra. Portanto,
pode-se descrever o aparecimento e a evolução das cavernas por um equilíbrio
iônico representado pela seguinte reação reversível:
Ca2+
(aq) + 2HCO- 3(aq) ⟺ CaCO3(s)
+ CO2(g) + H2O(l) .
O
Ca(HCO3)2 vai lentamente se transformando em CaCO3.
Esse carbonato de cálcio começa a se depositar a partir da água que cai do teto
das cavernas, formando as estalactites. Além disso, existem as formações
calcárias que crescem a partir do solo, ou estalagmites.
O
passo seguinte é a metamorfose dessa solução em cristais. Isso ocorre porque,
em cada pequena gota que aflora no teto, na parede ou no piso das cavernas, há
perfeita separação entre uma parte líquida e outra sólida.
A
primeira parte, ao deixar de ser rocha, se decompõe, devolvendo gás carbônico
para o ar. A segunda é o carbonato de cálcio que toma a forma de um anel
microscópico na base da gota. A água que resta, pinga.
Milhões
de gotas são necessárias até que um espeleotema seja esculpido – alguns deles
decorrentes de uma deposição mais acelerada em locais em que a umidade é maior.
Quanto
à forma, os espeleotemas mais conhecidos são mesmo as estalactites, que lembram
colunas inacabadas penduradas no teto de quase todas as cavernas do mundo. A
construção inversa, de baixo para cima (estalagmite), é igualmente comum.
Dessa
forma, a origem dessas estruturas gêmeas é o carbonato de cálcio nas gotas.
Parte dele fica retida no teto e se transforma na estalactite; outra despenca
com as gotas e é empregada para montar a estalagmite. Por isso, elas crescem em
sentido oposto, uma sobre a outra, e geralmente se encontram a meio caminho
para modelar uma bela coluna.
Embora
elas cresçam, em média, um mísero milímetro a cada três anos, há na Europa
Central um exemplar desse espeleotema que atingiu nada menos que 100 metros de
altura.
Poucas
pessoas sabem que estalagmites e estalactites são apenas os mais vulgares espeleotemas.
Existem dezenas de outros, cujas formas exóticas desafiam a lei da gravidade. A
água estacionada modela um segundo tipo de escultura: é a exudação ou
transpiração, que emerge delicadamente das paredes e do teto das cavernas,
empurrada pela diferença de temperatura e pressão entre os poros das rochas e o
vazio interno.
São,
por exemplo, as helictites, flores, corais e agulhas. Curvilíneas, aguçadas ou
espalmadas, elas crescem obedecendo às leis microscópicas dos cristais, sem a
interferência da gravidade.
“Quando o carbonato de cálcio se separa
do líquido, sua estrutura se mantém unida por meio de forças elétricas, dando
origem a arranjos estruturais dos mais bizarros tipos que se conhecem”, ensina
José Ayrton Labegalini, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Espeleologia.
(SUPERINTERESSANTE,
12/1991, adaptado)
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