Resenha – Uma Menina Estranha: autobiografia de uma autista

O livro Uma Menina Estranha é a autobiografia de Temple Grandin, uma portadora do autismo. A obra conta a trajetória, os pensamentos, os medos, os desafios e as descobertas daquela que viria a ser uma das maiores especialistas em tratamento do gado em abatedouros. Acompanhe:

Capa do livro, pela editora Cia das Letras.
Imagem: Divulgação.

Temple Grandin nasceu em 29 de agosto de 1947, sendo a primeira de quatro filhos. Sua mãe, Eustácia, tinha 19 anos quando ela veio ao mundo e percebeu que, depois que a bebê completou 6 meses de vida, ficava rígida quando a pegava no colo e, à medida que ia crescendo, apresentava comportamentos diferentes das outras crianças.

Ao levá-la a um especialista, descobriu que Temple sofria de autismo. Os sintomas que a menina apresentava eram típicos dessa síndrome: dificuldade de comunicação, às vezes ficava perdida em seu “mundo interno”, tinha acessos de raiva, apresentava comportamentos repetitivos – como girar sem parar –, entre outros.

Mesmo sendo dito a Eustácia que sua filha deveria ser internada em uma clínica psiquiátrica e que ela não poderia conviver em sociedade, ela insistiu em matricular sua filha em uma escola regular.

Temple, como característica dos autistas, era muito visual, e realizava bem trabalhos manuais como as atividades de artes e costura, mas não se saía bem nas outras matérias. Seus acessos de raiva ocorriam em resposta às provocações de outros alunos e acabaram causando sua expulsão da escola em que estudava.

Temple Grandin atualmente.
Imagem: Divulgação.

Depois disso, sua mãe a matriculou em uma escola menor, a Mountain Country School, que era para crianças superdotadas e, além de possuir as matérias regulares, possuía cavalos, áreas verdes, lagos, entre outras atividades para canalizar a energia de Temple.

Nessa escola, conheceu o sr. Carlock, que enxergava o potencial por trás do comportamento impulsivo de Temple. Ele ajudou a canalizar suas obsessões, típico sintoma do autismo, em algo produtivo, como desafiá-la a reproduzir o Quarto Distorcido de Ames, um espaço que criava a ilusão de que dois indivíduos de mesma altura possuíam alturas diferentes, o qual ela conseguiu reproduzir um tempo depois.

Depois da escola, veio a faculdade. Nesse período, Temple descobriu mais uma obsessão: bretes e manejo de gado. Após observar o tratamento do gado para o abate em um matadouro, ela elaborou estruturas para que o gado percorresse um caminho curvo ao invés de uma reta, para que não ficasse tão assustado, não só para o abate, mas também para ser vacinado e marcado.

Nas palavras de Temple: “Descobri que, ao encostar minhas mãos num animal que esteja na fila em Beefland [abatedouro], consigo sentir o quanto ele está nervoso. Às vezes, tocar o animal já basta para acalmá-lo. Muita gente diz que, já que vão ser abatidos, não é preciso ser delicado com eles. E a minha resposta é a seguinte: e se a sua avó estivesse morrendo num hospital? O que você acharia se um médico dissesse que ela era apenas um paciente terminal, e que podia ser jogada num canto?”

A máquina de abraço
    
Máquina de abraço desenvolvida por Temple Grandin.
Imagem: Divulgação.
           
Outro tema recorrente durante boa parte da trajetória de Temple é seu desejo de construir a máquina de abraço: um brete para humanos, a fim de exercer pressão sobre sua pele para ajudá-la a lidar com sua hipersensibilidade ao toque e seus ataques de pânico.

A pressão da máquina controlada por ela ajudaria a lidar com a situação de toque humano, ajudando a melhorar o seu contato com as pessoas. Mesmo com a oposição do psicólogo da escola e de sua mãe, Temple construiu a máquina e usou-a para benefício próprio e de outras pessoas, pois, após testes, ela foi disponibilizada em alguns institutos para ajudar na terapia de autistas.

Vida adulta e trabalho
Depois de se formar, Temple fez mestrado e doutorado em Zootecnia, buscando melhorar o manejo animal em fazendas e abatedouros. Escreveu diversos artigos na área e dá palestras pelo mundo.

Ela diz que o apoio da família, de professores e da equipe de profissionais que acompanhou seu desenvolvimento foi primordial para que pudesse ter uma vida adulta independente.

Onde encontrar o livro
O livro Uma Garota Estranha: Autobiografia de uma Autista está disponível em editoras online como Saraiva, Companhia das Letras ou no Buscapé. Ele também está disponível nos acervos das escolas públicas, sendo distribuído pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no Âmbito do Programa Nacional Biblioteca na Escola – PNBE Temático.

Filme

Capa do filme Temple Grandin.
Imagem: Divulgação.


Em 2010, sua vida virou filme, com o nome: Temple Grandin, sendo interpretada pela atriz Claire Danes. 


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4 Comentários

  1. Primeiro parabéns pelo artigo, fiquei curioso em saber se há experiência para saber se a "máquina de abraço" foi testada em outros autistas e as conclusões?
    Obrigado.

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    1. É uma boa pergunta! Não conheço ainda nenhum estudo sobre como ela foi usada, mas se for para ajudar outros autistas, seria muito bom.

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  2. Esse filme é maravilhoso!! Sempre o recomendo. Ele é essencial, principalmente para quem atua na área da educação.

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    1. Olá, ainda não vi o filme, só li o livro. Também acho que os filmes voltados para a área da educação têm grandes lições de vida.

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