Ano
após ano, vemos alunos de várias partes do país terminando o Ensino Fundamental
ou o Ensino Médio e apresentando dificuldades de interpretar um texto ou de
fazer contas matemáticas simples, como divisão e multiplicação. Mas o que faz
com que essa situação se repita? Observei um conjunto de fatores e resolvi
falar um pouco sobre cada um deles. Acompanhe:
1. Falta de estímulo em casa
Antes
que digam que algumas pessoas estudam mesmo que os pais não fiquem “pegando no
pé”, as crianças e adolescentes devem, sim, ser supervisionados pelos pais ou
responsáveis.
Alguns
alunos vivem a lei do menor esforço, então se ninguém olhar uma agenda nem for
à escola verificar como anda o rendimento do aluno e o comportamento dele, as
tarefas continuarão em branco.
A
agenda escolar, como falei, é muito importante para acompanhar o que o aluno
está estudando, quais as datas de provas, o roteiro de estudo para as provas,
avisos importantes sobre comemorações escolares, entre outras informações.
Se
tiver curiosidade de saber mais sobre a importância da agenda escolar, ainda
tão subestimada, clique no link abaixo:
Além
do que citei, existe o caso de famílias que não entendem as atividades dos alunos
ou até mesmo não tiveram a chance de ir à escola.
Embora
muitas famílias humildes estimulem seus filhos a estudar, outras não veem
importância no estudo, pois viveram toda sua vida sem “precisar” dele.
Vendo
isso, os alunos pensam que também não precisam estudar, pois se seus pais e
avós conseguiram, então eles vão conseguir.
O
que eles não percebem é que os tempos são outros e quando vamos em seletivas de
emprego, cada curso ou experiência no currículo conta para se destacar.
2. Fome e miséria
Alguns
alunos são pequenos, mas enfrentam lutas que nós adultos nem conseguimos
imaginar.
Houve
um episódio que me marcou muito, que foi quando uma aluna minha passou mal de
fome. Ela disse que não havia almoçado (ela vinha de uma família muito
necessitada), então a levamos para comer o lanche mais cedo, discretamente,
para não constranger a criança.
Alguns
alunos são quietinhos e apáticos não porque são bonzinhos, mas porque têm fome.
Em muitos casos, damos mais frutas e deixamos repetir o lanche mais vezes
porque sabemos que eles não têm o que comer em casa.
Às
vezes uma criança calada não chama tanta atenção dos professores, alguns até
gostam porque “pelo menos não atrapalha a aula”.
Mas
é preciso verificar se elas não estão passando por algum problema familiar ou
se estão aprendendo aquilo que ensinamos.
Pode
ser também a personalidade da criança, mas sempre é necessário um olhar
cuidadoso por parte do professor.
Se
nós adultos não conseguimos assimilar bem as coisas ou ficamos irritados quando
temos fome, imagine uma criança?
3. Falta de “base”
A
tão chamada “base” é o conjunto de conhecimentos que fundamenta qualquer
matéria.
Por
exemplo: se um aluno chega ao Ensino Médio sem saber as quatro operações
básicas, como podemos esperar que ele resolva uma equação? Como ele irá
calcular porcentagem ou juros simples?
Ou
ainda, se um aluno não aprendeu a ler, como vamos exigir que ele encontre o
sujeito de uma oração?
Precisamos
observar a qualidade do ensino oferecido às crianças nos seus primeiros anos
escolares, pois é com essa base que elas irão aprender os conteúdos dos
próximos ciclos.
O
que percebemos, por vezes, são escolas sucateadas, sem nenhum tipo de material
para trabalhar com as crianças, salas superlotadas e profissionais com formações
que deixam a desejar.
Você,
que é professor, responda: Sua faculdade ensinou você a alfabetizar? Ensinou
métodos para trabalhar sua matéria com os alunos com as mais diversas
dificuldades de aprendizagem?
Muitas
faculdades lotam os futuros professores com teorias e teorias, mas não os
preparam para a realidade da sala de aula das escolas públicas brasileiras.
Parece
que falta base para alunos e professores.
4. Falta de professores
Sabemos
que o salário oferecido pela profissão de professor não é dos mais atrativos e
carga de trabalho é muito pesada.
Esses
fatores aliados a condições de trabalho precárias fazem com que muitos
profissionais busquem outras escolas que remunerem melhor.
Dessa
forma, ocorre uma fuga de professores das escolas mais carentes, deixando os
alunos por semanas ou meses sem professor de determinada matéria.
Ocorre,
então, um déficit de aprendizagem que fará falta nos anos seguintes, pois o
próximo livro trará novas matérias que vão requerer um aprendizado que aqueles
alunos não tiveram.
5. Sobrecarga de conteúdos
Eu
sei o que muitos vão dizer: “mas aluno só estuda, não faz mais nada da vida,
tem mais é que estudar mesmo”.
Defendo
sempre o estudo, mas existem algumas situações que talvez nós não paramos para
analisar.
Em
quatro horas de aulas (que é a carga horária mais comum das escolas) temos
apenas 15 ou 20 minutos de intervalo (ou recreio).
Ainda
não contabilizamos o tempo que as crianças lancham o que trazem de casa ou
ficam na fila da cantina para o lanche.
O
tempo que já era curto agora ficou menor. Assim, eles vão tentar usar o pouco
que sobrou para extravasar toda a sua energia, daí surge o furacão dos
intervalos escolares.
Muitos
professores detestam a hora do intervalo porque as crianças correm
descontroladamente e gritam bastante.
Devemos
lembrar que criança tem que brincar e gastar energia, além de interagir com
seus colegas.
Não
dá para interagir nem brincar em uma aula em que se quer repassar o conteúdo.
Sei
que muitos conversam até demais, mas será que se houvesse mais tempo para
brincar e conversar as crianças e adolescentes não ficariam mais calmos em sala
de aula?
Às
vezes a escola é o único lugar em que veem seus amigos, pois hoje em dia não se
pode mais brincar na rua como antigamente por causa da violência.
Em
consequência disso, muitas crianças ficam em apartamentos ou casas sem espaço
para brincar, usando celulares e computadores como diversão.
6. Quando eu vou usar isso?
A
falta de perspectiva de aplicar algum conteúdo em sua vida prática faz alunos questionarem
se devem “perder” seu tempo com aquela matéria.
Sejamos
francos, nós que somos adultos não gastamos nosso tempo, esforço e dinheiro em
algum curso que não vá trazer algum retorno financeiro ou crescimento pessoal.
Os
alunos pensam da mesma forma. Entretanto, às vezes falta informação e exemplos
práticos.
Nos
juros simples, por exemplo, os alunos poderiam aprender as vantagens e
desvantagens de comprar uma moto, um carro ou uma casa parcelados, por exemplo.
Isso
já aproximaria o conteúdo da vida prática deles. Tornaria o que se fala mais
atrativo. Deve partir do professor a iniciativa de fazer um paralelo dos
conteúdos com a realidade dos alunos.
7. Avaliações engessadas
Precisamos
ter notas para preencher o diário de classe. Sabemos que uma nota não define um
aluno, mas as escolas têm que apresentar notas para os órgãos fiscalizadores.
A
prova é um momento e não define toda a aprendizagem e esforço daquele aluno
durante o bimestre.
Lembro-me
até hoje que, durante uma prova de Geometria do meu Ensino Médio, uma colega se
levantou de repente e saiu chorando da sala.
Todos
ficaram se perguntando o que aconteceu e descobrimos que, na casa dela na manhã
da prova, seus pais tiveram uma briga muito violenta e aquilo a deixou abalada.
O
professor, com uma atitude louvável, explicou a situação para a turma e falou
que achava justo aplicar outra avaliação para aquela colega e a turma toda
prontamente concordou.
Eu
pergunto: aquela aluna falhou só porque não fez a prova no momento determinado?
Não!
Infelizmente
precisamos preencher notas, mas devemos avaliar o aluno integralmente.
Devemos
levar em consideração sua pontualidade, assiduidade, entrega de atividades e
trabalhos, seu interesse durante as aulas e até mesmo seus questionamentos e
dúvidas.
Tudo
isso faz parte do aprendizado e deve entrar na média final, não somente a nota
da prova.
Então
eu penso: será que o aluno não aprendeu ou os professores deixaram de perceber
todas as formas de aprendizado que já citei?
Conclusão
Esse
texto foi apenas uma reflexão sobre o sistema de ensino do nosso país e o
contexto social enfrentado por muitos alunos.
Meu
objetivo não é apontar culpados, mas sim mostrar que é mais fácil taxar alunos
de preguiçosos do que tentar ajudá-los a recuperar o conteúdo defasado.
Devemos
repensar nossa prática como professores e devemos também observar que uma prova
sozinha não define aprendizado. Devemos considerar todo um conjunto de
situações durante as aulas.
Creio,
por fim, que tanto alunos quanto professores sofrem com a falta de estrutura, a
superlotação e a violência.
Espero que esse texto possa ajudar de alguma forma pais, alunos,
professores e familiares de alunos e professores a entender um pouco mais sobre
a dura tarefa que é educar no nosso país.
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