No Brasil, o curso superior é um requisito para poder exercer muitas profissões, sendo professor uma delas. Entretanto, é de conhecimento de muitos colegas de profissão que a faculdade não prepara para a realidade de sala de aula.
Vou
listar aqui alguns desses assuntos que achei que faltaram na graduação:
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1. O que é Inclusão na prática?
Embora
muitas graduações em licenciatura tenham uma cadeira de Língua Brasileira de
Sinais – LIBRAS e também de Educação Especial ou Educação Inclusiva (abordando
brevemente sobre Autismo, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH, Dislexia,
Discalculia, entre outros), ficamos sem entender como incluir de fato esse
aluno.
Como
orientar a família de um aluno que suspeitamos ter traços de algum transtorno?
Quais os direitos do aluno com deficiência? Como lidar com a família que não
aceita que seu filho possa ter alguma dificuldade de aprendizagem ou transtorno
do desenvolvimento? Como pedir um cuidador para algum aluno?
Além
do que falei acima, depois da escola, onde mais esse aluno com deficiência será
atendido? No posto de saúde? No Centro de Atenção Psicossocial – CAPS?
Quais
profissionais ele necessita para seu desenvolvimento? Muitos pais com pouco ou
nenhum estudo não sabem a quem buscar e dependem de uma orientação, tendo a escola
como única fonte de informação.
Como
planejar de forma efetiva para esse aluno público da inclusão? É preciso
conhecer mais das questões de saúde e do desenvolvimento do aluno, mas a
faculdade não ensina isso. Qual curso buscar? Onde está a formação de
professores daquela cidade? Estão pensando em palestras e cursos voltados para
esse público?
Há
jogos disponíveis na escola? Há material para construir os jogos? Algumas
escolas não têm sequer máquina de xérox, então como agir? O professor
continuará tirando do próprio bolso para conseguir dar aula?
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2. Como lidar com o Bullying?
A
violência física ou psicológica de forma repetitiva é uma realidade nas escolas
públicas e privadas. Como intervir? Como falar com os pais do aluno que
praticou o Bullying? Geralmente, os pais de quem praticou o ato não comparecem
à escola. O que fazer? Quais órgãos acionar?
Leia
mais sobre bullying no post abaixo:
Resenha: Geração do Quarto – Hugo Monteiro Ferreira
E
quando os pais do aluno que é vítima ficam agressivos com o professor, o que
fazer? Quando acusam o professor de ser conivente, o que dizer? Muitos alunos
praticam o Bullying quando o professor não está perto: hora do intervalo, nos
banheiros, na saída, no ônibus escolar ou mesmo pela internet.
Como
planejar aulas voltadas para impedir que o Bullying aconteça? Quais livros ou
pesquisas são interessantes para a realidade daquela escola? Há internet na
escola para pesquisar? Há material para fazer um jogo sobre emoções? É possível
convidar outros profissionais para palestrar na escola?
Mais
uma vez toco na tecla da formação de professores. É verdade que cada
profissional deve buscar informações, mas é função dos poderes municipal,
estadual e federal levantar a demanda e fornecer formação continuada.
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3. Violência na escola
Além
do Bullying, existe também a violência ligada a roubos ou grupos organizados
que atuam em determinadas regiões em que as escolas estão inseridas.
Não
existe um código de sobrevivência e cada professor se vê pisando em ovos para
não desagradar.
Então, temos medo de repreender um aluno e ele ser parte desse grupo ou mesmo
seus pais. Como posso chamar os pais de um aluno para conversar, se minha
segurança estará em risco?
Como
fazer uma aula de campo mesmo no próprio quarteirão da escola se o local é
perigoso? Como fica a segurança do professor, se ele tem medo de que algo
aconteça ao ir ou voltar para seu local de trabalho?
Infelizmente,
escolas localizadas nessas regiões sofrem com falta de professores, pois muitos
buscam outros locais para trabalhar ou mesmo adoecem física ou mentalmente,
tirando licenças.
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4. Empreendedorismo
Ninguém
ensina como montar o próprio negócio. Como fazer gestão de pessoas ou de
materiais. Como ser criativo e trazer algo mais para a educação daquela cidade,
ou mesmo criar um produto digital.
Parece
que a faculdade só forma alunos para atuarem em escolas. Veja, o problema não é
a escola, mas o caminho engessado. Não há outros caminhos?
Quando
um professor passa anos em uma escola sem perspectiva de crescimento, então
geralmente ele tenta criar o próprio negócio. Alguns tentam aulas de inglês
particulares, reforço ou mesmo tentam entrar em um ramo diferente da educação.
A
falta de visão de outras possibilidades realmente limita a profissão de
professor. Muitos já não desejam lecionar na estrutura oferecida pelas escolas
desde a graduação.
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5. Como lidar com o adoecimento mental
dos alunos e dos profissionais?
Casos
de ansiedade, crises de choro e automutilações estão cada vez mais comuns. Como
orientar esses alunos, se nós professores por vezes também estamos adoecidos?
Como
abordar com a família que o filho está se machucando ou dizendo que nada mais
vale a pena? O que fazer quando a família sabe da situação, mas diz que é
“frescura”?
Quem
lida com questões de saúde mental é o psicólogo. Como fazer a família entender
que deve levar o aluno para esse profissional? Como fazer quando a família tem
preconceito com questões de saúde mental, tais como:
“Meu
filho não precisa de psicólogo, ele não é doido!” ou “Isso é falta do que
fazer” ou mesmo acham que resolvem essas questões batendo.
Devido
a um contexto de sobrecarga de trabalho, violência vinda tanto da gestão e/ou
até mesmo partindo dos próprios alunos, o professor encontra-se adoecido e não
consegue lidar com o adoecimento dos alunos.
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6. Como auxiliar alunos que estão com
grandes dificuldades de aprendizagem?
O
professor recebeu uma turma de 4° ano e sua matéria é Ciências. Em uma turma de
30 alunos, 7 não sabem ler. Esse caso hipotético é cada vez mais comum nas escolas
no pós pandemia.
Leia
mais sobre dificuldade de aprendizagem no post abaixo:
Por
que os alunos não aprendem?
Como auxiliar esses alunos, se o professor de ciências não foi ensinado a alfabetizar na universidade? Isso pode acontecer até mesmo com um professor de Matemática, História ou Geografia.
É
possível matricular o aluno em algum projeto de reforço na escola? A escola
oferece material para fazer jogos para auxiliar esses alunos? É claro que o
professor de sala de aula regular não irá deixar esse aluno para trás.
Mas
é preciso ver se a escola oferece suporte para ajudarmos o aluno. O professor
não pode estar sozinho nessa situação. Como é a participação da família? Eles
vêm à escola? Eles sabem ler? Conseguem ensinar a tarefa de casa, caso o
professor passe conteúdo para auxiliar na alfabetização?
Se
o professor se disponibilizar a dar aulas extras nem que seja por 40 minutos
para auxiliar na alfabetização dos alunos com dificuldade, a escola tem sala
disponível para que esse momento ocorra?
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Conclusão
Esses
foram alguns dos questionamentos que eu quis dividir com vocês que estão
fazendo faculdade de licenciatura ou mesmo já estão em sala de aula. Pode ser
que seus filhos ou sobrinhos estejam em idade escolar.
Esse
texto ajuda a entender o lado do professor, que tenta fazer com dedicação o
seu trabalho, mas esbarra em diversas dificuldades ao tentar fazer seu ofício
da melhor forma possível.
Espero
que consigamos diminuir essas questões nos próximos anos, mas sem apoio do
Poder Público para melhorar a estrutura da Educação e tornar a profissão de
professor mais atrativa, temo que os problemas só se agravem com o passar do
tempo.
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